Acidente mobiliza órgãos e expõe impactos nas rodovias
Por Simone Nascimento
Uma filhote de onça-pintada fêmea foi encontrada morta às margens da BR-158, entre o município de Porto Alegre do Norte e o trevo de acesso a Canabrava do Norte, no nordeste de Mato Grosso, após ser atropelada por um veículo de grande porte. O acidente, ocorrido na madrugada da último sábado (26), causou espanto nos condutores que passaram pelo local e mobilizou equipes ambientais, ao evidenciar mais uma vez os impactos da infraestrutura rodoviária sobre a fauna silvestre do Araguaia.
Motoristas que passavam pelo local acionaram a Polícia Militar Ambiental, que constatou o óbito do animal. Técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA) também estiveram na rodovia para realizar o recolhimento do corpo. O filhote apresentava sinais compatíveis com atropelamento, conforme as autoridades ambientais. O caso reforça os alertas sobre os riscos enfrentados por animais silvestres em regiões de tráfego rodoviário intenso. O veículo responsável não foi identificado.



Segundo especialistas, a morte da onça fêmea representa não apenas a perda de um indivíduo da espécie Panthera onca, mas também um retrocesso na conservação da biodiversidade local. A onça-pintada, maior felino das Américas, está classificada como “quase ameaçada” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), e sua presença tem diminuído progressivamente no Cerrado e na Amazônia em função do avanço humano.
O caso do atropelamento da filhote em Mato Grosso também ocorre em meio a outro episódio que reacendeu o debate sobre os limites entre presença humana e território da onça-pintada. No último mês, um caseiro foi morto por uma onça-pintada no Pantanal sul-mato-grossense, no município de Corumbá. A Polícia Militar Ambiental (PMA) apura as circunstâncias do ataque, que aconteceu em uma área rural onde a presença de felinos é comum. O incidente, apesar de raro segundo especialistas da área, chama atenção para a crescente sobreposição entre o avanço das atividades humanas e o território dos grandes predadores, muitas vezes encurralados em fragmentos de habitat. Especialistas alertam que tanto ataques quanto atropelamentos são sintomas de um desequilíbrio ambiental causado por expansão desordenada e falta de planejamento territorial.


De acordo com moradores da região, avistamentos da espécie ainda são relativamente comuns nos arredores de Porto Alegre do Norte, onde fragmentos de mata preservada servem de habitat para animais de grande porte. Porém, a expansão agropecuária e o intenso tráfego nas rodovias federais, como a BR-158, vêm intensificando o risco de acidentes fatais envolvendo a fauna silvestre.
“O atropelamento de uma filhote fêmea tem um peso duplo: é uma vida perdida e um potencial reprodutivo que desaparece”, comentou a bióloga Simone Nascimento, que também apontou a ausência de políticas públicas efetivas. “Faltam passagens de fauna, cercas de contenção e sinalização adequada. É uma tragédia anunciada.”
A BR-158 é uma das principais rotas logísticas do Mato Grosso, fundamental para o escoamento de commodities agrícolas. No entanto, o trecho entre Porto Alegre do Norte e Canabrava do Norte atravessa áreas com vegetação nativa e alta presença de fauna silvestre. Apesar da recorrência de atropelamentos na região, a rodovia ainda carece de infraestrutura ambiental, como passagens de fauna, cercas de contenção e sinalização específica. A ausência dessas estruturas vem sendo apontada por especialistas como fator agravante na morte de animais silvestres.
Até o momento, não há monitoramento ambiental no trecho da BR-158 onde ocorreu o atropelamento.
Segundo o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), mais de 475 milhões de animais silvestres são atropelados anualmente no Brasil. A maioria desses casos sequer é registrada oficialmente, o que impede ações mais eficazes por parte do poder público.
O caso da filhote de onça-pintada morta em Mato Grosso torna-se, assim, mais um alerta sobre a urgência de integrar conservação ambiental e infraestrutura viária, sob o risco de extinguir espécies antes mesmo que sejam plenamente compreendidas.
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