Thiago Marcos e Goianyr Barbosa – Foto: Divulgação
Por Simone Nascimento
A Operação Sisamnes, deflagrada nesta terça-feira (18) pela Polícia Federal (PF), resultou na prisão do advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho, assessor jurídico do Ministério Público do Tocantins (MPTO) e sobrinho do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Além dele, seu pai e cunhado do governador, Goianyr Barbosa, ex-prefeito de Almas, também foi preso.
Mas um detalhe chave da investigação vem chamando a atenção: o ponto de partida para a operação foi a análise do celular do advogado Roberto Zampieri, brutalmente assassinado em Cuiabá, em setembro de 2023. Zampieri teria sido executado após descobrir e, possivelmente, ameaçar denunciar esquemas de venda de sentenças que envolviam nomes influentes do Judiciário.
Além dos presos, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra Ricardo Vicente da Silva, procurador de Justiça do Tocantins, que segue sob investigação.
Ligação com o assassinato de Zampieri
A investigação da Polícia Federal aponta que os suspeitos da operação desta terça-feira integram uma rede criminosa altamente organizada. Essa rede não só monitorava ilegalmente investigações sensíveis e repassava informações sigilosas, como também interferia diretamente em decisões judiciais para beneficiar determinados grupos.
Entre os alvos desse esquema estão advogados, lobistas, empresários, magistrados, assessores e chefes de gabinete. A descoberta desse complexo sistema de corrupção teria sido um dos motivos do assassinato de Roberto Zampieri. Fontes da PF indicam que ele teria obtido informações comprometedoras e, ao cogitar denunciá-las, acabou sendo brutalmente executado.
Os agentes analisaram mensagens encontradas no celular de Zampieri, que revelaram ligações diretas entre investigados da Operação Sisamnes e o esquema de venda de sentenças.
Detalhes da operação e prisões
A operação foi autorizada pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), e cumpriu quatro mandados de busca e apreensão no Tocantins.
Os agentes identificaram que Thiago Marcos Barbosa de Carvalho, preso preventivamente, tinha acesso a investigações sigilosas do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e compartilhava informações privilegiadas. Em mensagens interceptadas pela PF, Thiago citava o governador Wanderlei Barbosa, seu tio, afirmando que ele deveria “tomar providências” diante de determinadas investigações.
Além de Thiago, seu pai, Goianyr Barbosa, também foi preso. Durante a abordagem policial, ele jogou uma mochila com mais de R$ 20 mil em espécie aos agentes da PF, alegando posteriormente que pensou se tratar de um assalto.
O procurador Ricardo Vicente da Silva, embora não tenha sido preso, teve seu gabinete e residência vasculhados pela PF. As investigações apontam que ele também teria atuado para blindar determinados alvos de operações policiais.
Repercussão e medidas adotadas
O MPTO exonerou Thiago Marcos do cargo de assessor jurídico. Internamente, a instituição avalia abrir uma sindicância para apurar os fatos e colaborar com as investigações da PF.
O envolvimento de Goianyr Barbosa no esquema adiciona uma camada política explosiva ao caso, aumentando a pressão sobre o governo estadual. O governador não é formalmente investigado, mas seu nome apareceu nas mensagens analisadas pela PF.
Em nota, a assessoria de Wanderlei Barbosa negou qualquer envolvimento do governador e afirmou que ele nunca solicitou ou recebeu informações sigilosas.
Histórico da Operação Sisamnes
A Operação Sisamnes teve início em novembro de 2024, quando a PF desarticulou um esquema que envolvia a venda de decisões judiciais dentro do STJ. Advogados, empresários e até magistrados são suspeitos de envolvimento na fraude.
O nome da operação faz referência a Sisamnes, um juiz persa que, segundo relatos históricos, foi punido por aceitar suborno para favorecer uma sentença injusta.
Conclusão
A prisão de um assessor jurídico do MPTO, a detenção de seu pai e a conexão da operação com o assassinato de Roberto Zampieri ampliam as dimensões do caso. O que inicialmente parecia uma investigação sobre vazamento de informações agora se revela um esquema maior, envolvendo manipulação de decisões judiciais e uma rede criminosa que pode ter levado à execução de um advogado.
As perguntas que permanecem são: Quem mais se beneficiou dessas informações sigilosas? E até onde essa rede se estendia?
A Polícia Federal segue com as investigações, e novos desdobramentos são esperados nos próximos dias.