A pacata cidade de Luciara em Mato Grosso distante da capital cerca de 1.061km, margeada pelo rio Araguaia foi palco de uma trágica fatalidade neste sábado, dia 19.
Por volta das 17:30h havia diversas pessoas se divertindo no rio quando um grupo de cinco jovens, entre eles Tauan Irruá Espíndula Luz, 19 anos, resolveu atravessar caminhando, já que nesta época do ano, as águas diminuem a ponto de ser possível passar com água até a cintura.
Segundo informações de moradores, em alguns pontos do rio, formam-se “porões”, lugar onde a correnteza cava buraco de alguns metros de profundidade, sendo uma armadilha para quem não domina o nado.
Infelizmente, no ponto onde os jovens tentaram atravessar tinha um porão de aproximadamente três metros. Os primeiros garotos conseguiram chegar à margem oposta, mas Tauan por algum motivo não conseguiu vencer a correnteza e profundidade que havia naquele lugar e desapareceu nas águas.
O fato foi percebido pelos amigos e imediatamente pessoas que se encontraram na praia, tomaram as embarcações que na região recebem o nome de ‘voadeira’ e puseram a procurar por Tauan.
No momento do afogamento, um juiz de direito estava no local e acionou o Corpo de Bombeiros e a Marinha.
A Marinha, que tem base em São Félix do Araguaia esteve no local no domingo, colaborando com as buscas mesmo sendo a atribuição de mergulho sendo do corpo de bombeiros.
No município de Confresa há um núcleo do Corpo de Bombeiros, porém na equipe não há mergulhadores. A outra base é em Nova Xavantina, entretanto os mergulhadores estavam em outra operação. Sendo assim, foi acionado a base de Barra do Garças.
Os profissionais de Barra do Garças só chegaram em Luciara na madrugada de segunda feira, dia 21. O atraso se deu por diversos motivos: a longa distância, cerca de 670km de Barra do Garças até lá. Outro motivo que todos nós moradores do Araguaia sabemos, é o trecho da BR 158 não ser pavimentada, fazendo com que a viagem demore ainda mais.
Outro fator pela demora da equipe chegar até Luciara é um absurdo: a viatura não tinha estepe e um dos pneus veio a furar, situação em que os próprios bombeiros tiveram que providenciar o conserto, à noite, para poderem dar continuidade a viagem.
Evidencia-se aqui o profissionalismo da equipe, que com toda essa falta de condições, viajaram a noite toda para poderem chegar ao destino o mais breve possível e atender a ocorrência, dando o seu melhor, fazendo jus ao lema da instituição “Qualquer um pode se afogar, ninguém deveria”
Também é necessário ressaltar que mesmo sem ter a presença dos profissionais habilitados (bombeiros), as buscas estavam sendo realizadas por pescadores e pessoas da cidade desde o momento do ocorrido. Muitas pessoas mergulhando, fazendo varredura nas margens, passando rede, espinhel e anzóis na ânsia de obter sucesso de pelo menos resgatar o corpo de Tauan, e talvez, por não ter a preparação profissional, colocando em risco a própria vida também.
Na margem do rio, em frente ao local do ocorrido, foi montado uma base de apoio, onde muitos voluntários se revezaram em vigília e nas atividades de buscas. Quem não tinha condições de participar das buscas, colaboraram com alimentos e combustíveis para que a ação pudesse ser realizada.
Nesta quinta-feira, dia 23, cinco dias após o incidente, outro afogamento aconteceu. Desta vez um indígena na aldeia Fontoura, 20 km acima da cidade.
Uma viatura veio de Nova Xavantina trazendo cilindros de oxigênio para essa nova ocorrência. Dois bombeiros continuam as buscas pelo corpo de Tauan juntamente com pescadores e populares e dois seguiram para a aldeia.
Agora pela manhã, nossa redação foi informada que o corpo do indígena foi encontrado submerso.
A previsão da continuidade das buscas pelo corpo de Tauan, pelos bombeiros, seja até semana que vem.
Nessas horas o espírito solidário de Luciara é evidenciado. Muitas pessoas tiraram e têm tirado tempo do seu dia a dia para ajudar no que for preciso.
OPINIÃO
Essa terrível fatalidade traz diversas reflexões para todos nós.
Não se deve subestimar o perigo das águas. É necessário ter o total domínio para adentrar qualquer curso de água, pois qualquer vacilo, pode ser fatal, como foi para o jovem Tauan, que com apenas 19 anos, deixou enlutada não apenas a sua família, mas uma cidade inteira, pois no momento que uma família perde um de seus membros, todas as outras famílias perdem um pouco de si também.
Outra lição, talvez a mais terrível de todas: A estrutura de operação da instituição do Corpo de Bombeiros.
Cidades como Santa Terezinha, Luciara, São Félix do Araguaia, Cocalinho, cidades margeadas pelo rio Araguaia não ter uma base do Corpo de Bombeiros e com mergulhadores, é no mínimo um absurdo.
Em Confresa há o núcleo do Corpo de Bombeiros, mas com a capacidade de combate a incêndio, não que isso não seja importante, pelo contrário, é fundamental, mas para isso existe os brigadistas.
É necessário dar maior estrutura aos profissionais desta instituição com recursos como equipamentos, automóveis em boas condições de uso, barcos com motores potentes, entre outras questões, assim como também aumentar o número de mergulhadores na instituição, para que quando for solicitado, não aconteça o que aconteceu neste caso de Luciara.
Tanto a estrutura, quanto o número de profissionais não são o suficientes. E isso põe em risco vidas, sendo necessário uma ação urgente do poder público responsável.
Fica aqui um apelo as autoridades competentes: Quantas vidas serão necessárias para mudar essa realidade?
