Polícia investiga morte causada por prática perigosa online
Menina de 8 anos morre após inalar desodorante em desafio viral. Polícia investiga responsabilidade pela divulgação do conteúdo.
Por Simone Nascimento
A trágica morte de Sarah Raíssa Pereira, de apenas 8 anos, reacendeu o debate sobre a influência nociva das redes sociais na vida de crianças e adolescentes. A menina, moradora de Ceilândia, no Distrito Federal, morreu após inalar spray de desodorante como parte de um desafio popularizado em plataformas digitais. O caso ocorreu na última quarta-feira (10), mas só foi divulgado oficialmente neste domingo (13) pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
De acordo com informações da corporação, a menina foi socorrida após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Ela foi levada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde a equipe médica tentou reanimá-la por cerca de uma hora. Apesar dos esforços, a paciente não apresentou reflexos neurológicos. A morte cerebral foi constatada no mesmo dia e o falecimento foi formalmente declarado três dias depois, após esgotados todos os protocolos clínicos.
A 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro) abriu um inquérito para investigar as circunstâncias da morte. Os agentes buscam esclarecer como a criança teve acesso ao “desafio do desodorante”, uma prática extremamente perigosa que consiste em inalar aerossóis até o limite da consciência, com o objetivo de gerar sensações de euforia ou desmaio, comportamento considerado como forma de automutilação ou autoasfixia.
Desafios letais disfarçados de brincadeira
O “desafio do desodorante” já havia sido registrado em outros países, incluindo Reino Unido, Austrália e Estados Unidos, com relatos de mortes e hospitalizações graves. No Brasil, esta é uma das primeiras fatalidades confirmadas relacionadas a esse tipo de prática. Especialistas alertam que a inalação de aerossóis pode causar arritmias cardíacas, lesões cerebrais, parada respiratória e morte súbita.
A toxicologista clínica Sylvia Brunetta, do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que o gás propelente presente nos sprays pode interferir diretamente na condução elétrica do coração. “É um risco real e imediato. A pessoa pode desmaiar, ter convulsões ou até morrer em poucos segundos”, alerta a médica.
Investigação apura autoria e responsabilidade
A polícia trabalha para identificar como a criança teve contato com o desafio. Entre as linhas de investigação, está a possibilidade de envolvimento de terceiros, como colegas, influenciadores digitais ou canais que tenham promovido ou compartilhado o conteúdo. Segundo o delegado-chefe da 15ª DP, André Albuquerque, se for comprovado que alguém induziu ou facilitou a participação da menina no desafio, essa pessoa poderá responder por homicídio duplamente qualificado — por motivo torpe e uso de meio cruel — com pena prevista de até 30 anos de prisão.
A PCDF também reforça que qualquer pessoa que publique, incentive ou compartilhe esse tipo de conteúdo pode ser responsabilizada criminalmente, especialmente quando menores de idade estão envolvidos.
Família devastada e alerta às escolas
A morte de Sarah causou comoção em Ceilândia. Familiares e vizinhos relataram que a menina era alegre, carinhosa e gostava de dançar e brincar com os irmãos. Em nota, a Secretaria de Educação do Distrito Federal afirmou que está prestando apoio psicológico à escola frequentada pela criança e reforçou que campanhas de conscientização sobre segurança digital estão sendo intensificadas nas unidades de ensino.
“Precisamos falar com nossos filhos, entender o que eles consomem nas redes, o que estão vendo e com quem estão interagindo”, disse a psicóloga infantil Camila Torres, especialista em comportamento digital.
Reações e medidas preventivas
Entidades como o SaferNet Brasil e o Comitê Gestor da Internet (CGI.br) também se manifestaram. A SaferNet recomendou que pais monitorem o uso de redes sociais e conversem abertamente com seus filhos sobre os perigos da exposição digital e dos chamados “desafios virais”. Já o CGI.br destacou que está em contato com plataformas como YouTube, TikTok e Instagram para reforçar medidas de identificação e remoção desse tipo de conteúdo.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), solicitou esclarecimentos às principais plataformas de vídeo e redes sociais sobre o combate a conteúdos que possam colocar em risco a integridade de crianças e adolescentes.
O que fazer em casos de conteúdo perigoso?
Especialistas recomendam que, ao se deparar com vídeos ou postagens incentivando práticas perigosas como o “desafio do desodorante”, o usuário deve:
- Denunciar imediatamente o conteúdo na própria plataforma;
- Comunicar os responsáveis legais da criança ou adolescente;
- Notificar o Ministério Público ou a Delegacia de Crimes Cibernéticos;
- Orientar os menores sobre os riscos associados a essas práticas.
A morte de Sarah Raíssa deixa um alerta urgente: o ambiente digital, embora cheio de possibilidades, também abriga armadilhas que exigem vigilância constante de pais, educadores e da sociedade como um todo.
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