Texto Zeca Terra Amazônia Pantanal
Vai em paz, Tadeu
O Covid 19 bateu às nossas portas e arrancou do nosso convívio o amigo-irmão Tadeu. Deixou órfãos não só Ana Elisa, Daniel e Mariana que perderam seu pai, Therezinha e Jô que o tiveram como companheiro, mas a todos nós, de alguma forma, partilhamos de sua vida e amizade.
Tadeu foi um dos agentes de pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia da primeira hora. Chegou em 1972 e seu local de trabalho foi Santa Terezinha.
Nem bem se completava um mês de sua chegada, já sentiu muito de perto o tamanho do conflito que ali se desenrolava quando, no dia 3 de março,
aconteceu o enfrentamento dos jagunços da Codeara acompanhados pela polícia, contra os posseiros. E imediatamente a repressão se abateu e
levou presos alguns homens, entre os quais José Carlos que era o gerente da Cooperativa, o que obrigou a Tadeu a assumir esta função nos primeiros anos de sua estada em Santa Terezinha.
Em 1973, ele foi um dos agentes de pastoral levados presos pela repressão, junto com Therezinha, que depois se tornou sua esposa, Edgar
Serra, José Pontim, Antônio Carlos Moura, Tereza Adão e Lulu, líder dos posseiros de Serra Nova e Adauta, ex-aluna do GEA em São Félix.
Tadeu, como os demais, foi barbaramente torturado, pois queriam imputar ao grupo ligações com organizações de guerrilha.
Sobre estas torturas, Tadeu escreveu em relato feito à Prelazia, a pedido do bispo Pedro: “Quando ia alguém para o interrogatório, ficávamos rezando. Sentimos muito, nestes dias mais difíceis, a presença da igreja. Em nenhum momento duvidei da atualidade evangélica. Nas nossas pessoas, paradoxalmente, fóramos escolhidos para felicidade do testemunho cristão… Os Salmos nunca nos pareceram tão claros como naqueles dias”.
Sempre presente e atuante, Tadeu se incorporou à luta pela emancipação de Santa Terezinha, o que aconteceu em 1980. E logo em 1982, foi o primeiro prefeito eleito deste novo município [e de Vila Rica também]. (Nos anos de 1981 e 1982 houve um prefeito nomeado, como era praxe em tempos da ditadura).
Como prefeito, Tadeu semeou escolas em todos os pequenos núcleos que congregavam algumas famílias de posseiros. E deu apoio e suporte à
formação de professores, tanto em nível de primeiro grau e logo em seguida ao Projeto Inajá, de formação de professores em nível de segundo grau.
Foi novamente eleito prefeito nas eleições de 1992, agora já pelo PT, o primeiro prefeito eleito pelo partido no estado de Mato Grosso.
Suas administrações foram marcadas pela honestidade e integridade.
Tendo sido prefeito por 10 anos, ao deixar a prefeitura, os bens que possuía eram a casa onde morava e um carro. Ele também se destacou pela
habilidade política, pois conseguia dialogar com todos, mesmo os adversários.
Como bem diz o Diá, que foi prefeito de Canarana, quando Tadeu foi prefeito pela primeira vez em Santa Terezinha “seus rastros ficaram para
sempre nas barrancas do Araguaia e nas estradas que ele pisou”.
Tânia, que o conheceu já em São Félix, diz que ele “Sempre achava solução pra tudo, nunca achava que algo estava perdido. Tinha muito
cuidado e carinho com as pessoas”.
E, lembrando o jeitão de Tadeu, grandalhão, bonachão, humanista, comprometido com a causa do povo, Cascão diz que ele “estará eternizado
nos dicionários, pelo menos nos nossos, que tivemos o privilégio de conviver com ele.
vamos tadeuzar isso com nossas filhas, netas e pessoas de nosso convívio.
quando precisarem de exemplos, mostraremos uma foto sua e falaremos sobre o seu jeito leve de escorrer a vida.
Tadeu foi o Araguaia, essa mansidão. E Pontim nos diz que “estar junto com Pedro, Tia Irene e tantos mais é um privilégio que também nós vamos,
um dia, vivenciar.”
Magno Koriware Tapirapé assim se expressou: “Muito triste mesmo receber uma notícia assim, de uma pessoa que foi amiga do povo Apyãwa, que lutou junto com Apyãwa pela terra, saúde e educação. Apyãwa está triste junto”.
O Cacique Geral do povo Apyãwa também disse: “Notícia triste. Particularmente, estou emocionado com a notícia do falecimento do ex-prefeito Antônio Tadeu”.