Sem conseguir reduzir o avanço da covid, Estado de Mato Grosso opera saúde com taxa de ocupações em UTI acima de 95% há mais de 15 dias.

Por certo que nenhum governo mundial estava preparado para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, mas um ano após a identificação oficial dos primeiros infectados pela covid-19 em Mato Grosso o cenário permanece desanimador e cheio de incertezas. Quando teremos vacinas para toda a população? Quando o vírus poderá ser controlado? Quando voltaremos à vida normal? São perguntas que permanecem sem respostas.
Em uma retrospectiva, fica clara a falta de sintonia dos governos federal, estadual e municipal. Essa ausência de uma estratégia unificada pode ter contribuído para o avanço da doença já que, no início, enquanto o Governo do Estado criticava as restrições ao comércio e à circulação de pessoas, a Prefeitura de Cuiabá defendia o toque de recolher e demais medidas.
Um ano após o primeiro caso no Estado, os papeis se inverteram na gestão da pandemia em Mato Grosso. Enquanto o Governo do Estado reedita até dia 4 de abril o toque de recolher para tentar frear o avanço do vírus, a Prefeitura da capital ainda busca meios de conseguir anular a decisão judicial que a obriga a cumprir as regras.
O presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) se tornou o maior inimigo no controle da disseminação do vírus. Desde o início da pandemia em 2020, ele se declarou contra o isolamento social e usou palavras como “histeria”, “gripezinha” e “fantasia” para falar sobre a covid-19. Em claro desprezo à vida, ele disse recentemente: “Nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.
O Brasil vive agora o seu pior momento na pandemia, sem sinalizações de melhora no curto prazo, sem vagas em leitos de UTI pelo país, nem mesmo na rede privada, sem previsão concreta de vacinação da população e acumulando mais de 280 mil mortos e 11,5 milhões de infectados, alguns com sequelas graves da doença.
Veja a lista com as taxas de ocupações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos últimos 15 dias:
Dia 01/03 – 88,6%
Dia 02/03 – 88,01%
Dia 03/03 – 87,4%
Dia 04/03 – 96,8%
Dia 05/03 – 96,4%
Dia 06/03 – 99,5%
Dia 07/03 – 98,9%
Dia 08/03 – 98,9%
Dia 09/03 – 96,47%
Dia 10/03 – 94,1%
Dia 11/03 – 96,3%
Dia 12/03 – 95,1%
Dia 13/03 – 95,7%
Dia 14/03 – 94,9%
Dia 15/03 – 96,5%

O PNB Online preparou um compilado dos momentos mais marcantes em Mato Grosso da pandemia, que bate recordes dia após dia no número de mortos e novos infectados.
– Na primeira nota técnica da Secretaria Estadual de Saúde, divulgada em 20 de março de 2020, havia apenas um caso confirmado em Mato Grosso, na cidade de Cuiabá, 73 suspeitos, e 33 casos descartados da covid-19. O cenário não parecia tão sombrio, já que nenhum dos outros 140 municípios tinha registros da doença.
– No mesmo dia, o Governo do Estado orientou as cidades a adotarem restrições como fechamento de parques, bares e proibição de aglomerações, no entanto, naquele momento não houve suspensão de aulas e o entendimento era que apenas pessoas do grupo de risco (idosos e pessoas com comorbidades) deveriam estar em trabalho remoto. Mendes dizia que cada cidade deveria tomar as próprias decisões.
– Em 26 de março o Governo do Estado autorizou o funcionamento de diversas atividades econômicas. A medida visava proteger a economia. A única orientação era seguir o distanciamento social e as normas de segurança, como uso de álcool em gel e higiene frequente das mãos.
– Em 27 de março o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro classificou o decreto estadual como “equivocado e inoportuno”, já que ficou autorizada a abertura de shoppings, supermercados, agências bancárias, casas lotéricas, farmácias, petshops, postos de combustível, oficinas mecânicas, call centers, mercados de capitais e seguros, lojas de departamento, galerias e indústrias no estado. A Prefeitura de Cuiabá havia decretado emergência e mandado fechar o comércio.
– Em 3 de julho, governador Mauro Mendes atribuiu aos prefeitos de Mato Grosso a responsabilidade pelo crescimento vertiginoso das mortes e infectados pela covid-19. Naquele momento, ele acreditava que os prefeitos foram precipitados ao fechar comércios no início da pandemia e por isso enfrentavam dificuldades econômicas graves.
– Em julho de 2020, o Governo anunciou a abertura do Centro de Triagem da Covid-19, com objetivo de oferecer tratamento a pacientes com os primeiros sintomas da doença. No local vem sendo oferecido kit-covid, sem eficácia comprovada contra a doença. O local vem operando com capacidade máxima de atendimento devido ao crescimento vertiginoso dos novos infectados.
– A pandemia não deu trégua, apesar de leve queda no número de casos nos meses de agosto e setembro de 2020. As eleições de outubro foram adiadas para novembro mas nenhuma medida restritiva foi imposta e somente orientações para evitar aglomerações, uso de máscaras e álcool em gel eram feitas. Logo após a virada do ano, os casos dispararam e o Governo do Estado pela primeira vez baixou um decreto exigindo que todas as cidades seguissem as regras.

– Na contramão do que se esperava, o prefeito de Cuiabá entrou na Justiça para ser desobrigado a cumprir o decreto estadual do dia 3 de março de 2021, que autorizava o funcionamento do comércio no período compreendido entre as 5h e 19h de segunda a sábado. Aos domingos, somente no período compreendido entre as 05h e 12h.
– Emanuel perdeu em todas as instâncias, inclusive no STF, e cumpre a contragosto o novo decreto estadual que prorroga as restrições, válido até 4 de abril de 2021. Ele chegou a ser filmado na semana passada consumindo bebida alcoólica em uma distribuidora de bebidas no período do toque de recolher, aglomerado e, obviamente, sem máscara.
– Paralelamente às desavenças entre os dois principais chefes do Executivo do Estado, em 19 de janeiro chegaram ao Estado as primeiras 126.160 doses da vacina contra a covid-19. Era o início de uma fase de esperanças, que logo se tornou frustrada pelo envio a conta gotas do imunizante por parte do Governo Federal.
– O desalinhamento entre os poderes, a falta de vacinas, o pouco isolamento social associado a ações tardias de combate à pandemia obrigaram o Estado criar um novo pacote de ações, que inclui a abertura de 160 novas UTIs, 500 novos leitos clínicos, 150 leitos home care de retaguarda, 500 mil testes rápidos, entre outras ações.
Via: pnb Online